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Música e Cérebro

Até poucas décadas atrás, o imaginário popular – impulsionado pela indústria cinematográfica, ainda associava o talento musical à genialidade. O filme “Amadeus”, que conta de maneira romanceada a vida de W. A. Mozart, é um exemplo pontual de filme que muitos tinham como referência em tal associação entre Música e desenvolvimento da genialidade: o que até a indústria do entretenimento reconhece como fato agora a ciência confirma. 

Estudos sobre o cérebro humano abundam em grandes centros de pesquisa em todo o mundo, movidos por um desejo de conhecer a fundo os mecanismos de funcionamento de nosso órgão mestre. Todos sabemos de antemão que a inteligência depende do cérebro,e que ele é a “sede” do nosso pensamento, da nossa consciência e da nossa percepção sensorial.

Para desvendar o que forma nossa inteligência, não raro os pesquisadores utilizam-se da Música. O famoso psicólogo norte-americano Howard Gardner desenvolveu a modelo das inteligências múltiplas, no qual diferentes habilidades desenvolvem-se de maneira autônoma em nosso cérebro. Essa teoria foi confirmada por muitos estudos neurocientíficos, e os mais atuais apontam para uma divisão binária do cérebro em dois hemisférios – o esquerdo, responsável por alocar as habilidades lógicas, técnicas, matemáticas e analíticas; e o hemisfério direito, responsável pela comunicação, linguagem, imaginação, integração.

Esses dois hemisférios, portanto, alocam diferentes habilidades cognitivas, mas adivinhem: a única habilidade1 que se localiza nas duas metades, e que ativa todas as outras é exatamente a Música.

Depois que isto foi descoberto, muito se pesquisa sobre os efeitos da Música no Cérebro, e os resultados desses estudos podem ser usados para o bem – como acontece com os musicoterapeutas, que usam a música no tratamento de enfermidades -, ou para o mal, como no caso da indústria do entretenimento, que aplica fórmulas sonoras lesivas, que limitam as habilidades cerebrais, tornando as pessoas vítimas escravas de um sistema emburrecedor.

Esses processos de desenvolvimento das habilidades e faculdades de cada hemisfério cerebral e sua relação com a Música foram magistralmente estudados e interpretados pelo médico franco-vietnamita, Dr. Ming Dhun Nhiem, em vários de seus livros, mas em especial no primeiro deles – Música, Inteligência e Personalidade, traduzido para o português em 2019.

As conclusões do livro não são nada animadoras: da segunda metade do século XX para nossos dias, a qualidade da música comercialmente distribuída e consumida na maior parte do mundo civilizado é desesperadoramente decadente, chegando ao ponto de provocar danos físicos e intelectuais irreversíveis na nossa juventude. 

O órgão humano mais prejudicado pelos efeitos de músicas ruins é, naturalmente, o cérebro. Se as pessoas não pararem para prestar atenção ao que ouvem no dia-a-dia, vão ficar com dificuldades intelectuais cada vez maiores, e o desalojamento neste mundo também só crescerá.

 


No sentido proposto por Gardner, de que há distintas inteligências que acontecem em simultâneo em nosso cérebro: a única inteligência que abrange as demais, ex. lógica, emocional, social, etc, é a inteligência musical.